07 setembro, 2010

Não é o meu último adeus.

  Dora, minha viagem está marcada. Eu preciso ir. Eu sei que você deixou seus irmãos mudarem de estado depois que sua mãe faleceu para ficar comigo, mas é a vez dos meus pais terem minha atenção. Eles estão velhinhos, você sabe disso. Precisam da minha presença já que sou filho-único. Meus tios já não podem mais dar essa atenção que eu tanto estou devendo. Eu agradeço por tudo, e me arrependo do nosso combinado de nunca casar. Mas quem sabe não foi melhor? Talvez com os papeis assinados não tivesse sido tão bom. E não deixo de lado a minha idéia de você ir junto. Se mudar de idéia me avise. Mas se não mudar, não esqueça que nossa paixão não vai acabar aqui. Falaremos-nos todos os dias por telefone e por cartas como esta. É óbvio que não cartas de despedida, mas cartas de saudade. Saudades tais que estou sentindo desde já. Você vai fazer falta, mulher. Só quero deixar registrado aqui nesta carta dois momentos que marcaram minha vida, e provavelmente a sua.
  Lembra daquele dia em que estávamos voltando de uma festa, e você, de vestido curto e salto alto caiu em um buraco na rua? Ainda não sei o que era aquilo: se era um bueiro, sei lá. Era só tirar o tamanco e sair. Mas você, morrendo de medo e nojo precisou de três homens para te tirar de lá. E eu era um deles. E quem adivinharia que ali naquela noite, bêbados, iríamos firmar um compromisso?
  Mas para você não estava bom. Estávamos bêbados e não valeu. Você queria um pedido sério. Noutro dia me devolveu a aliança e a caixinha, e me fez pedir sua mão em namoro ajoelhado na frente do seu pai em um jantar que supostamente era aniversário dele. Você só criou essa mentira porque sabia que se fosse um jantarzinho qualquer eu não iria. Mas garanto que nem podia imaginar que eu ia levar uma garrafa de vinho sem saber que seu pai não bebia álcool. Que mico. Mas valeu a pena. E ah, engraçado que um mês depois seu pai me convidou para o verdadeiro aniversário dele sem saber da mentira daquele dia. Ele ainda deve achar que aquele vinho foi uma chantagem para ele aceitar o namoro. Não foi, mas pelo menos o namoro ele aceitou.
  Pois é. Esse foi o início do nosso namoro que espero estar longe do fim. Você vai ficar bem por aqui e eu lá. Todos ficarão felizes. Você aqui e eu e meus pais lá. Prometo mandar lembranças sempre. Nunca esqueça o quanto eu te amei, o quanto eu te amo e o quanto ainda vou te amar.
  Não termino essa carta mandando um beijo, pois em breve estaremos juntos para uma despedida. Mas termino dizendo que te amo como em quase todas as outras vezes.
Robert.