31 janeiro, 2011

Opostos algemados

            O equilíbrio perfeito encontra-se onde não há o melhor nem o pior, há apenas a junção.


            Estava cansado das algemas que puseram em meus braços. Resolvi afrouxá-las um pouco e sem perceber caminhava para outra direção com um dos lados da algema livre. Onde estava o seu braço que deveria estar ali? Provavelmente eu tenha afrouxado tanto que acabei te soltando, ou você cansada resolveu fugir sem dizer nem uma palavra. Nenhum de nós queria mais, concorde comigo. Mas você tinha algo diferente, tudo o que queria conseguia, eu não. No final do caminho nos encontramos mais uma vez. Eu, logicamente, fui tirar satisfações sem perceber que a culpa era minha e que as algemas não deviam ter sido afrouxadas. Você recusou ouvir qualquer babaquice que eu teria dito e sem pensar duas vezes correu um ou dois passos até perder o equilíbrio com um puxão que eu te dei quando segurei a sua roupa. Provavelmente você achou que iria levar uma bronca, e certamente se surpreendeu quando eu soltei uma única palavra: Desculpa. Você estava tão acostumada com as broncas e castigos que te davam enquanto esteve longe que ficava com medo de qualquer encostada que dessem em você que não viessem seguidas de ‘Gata’, ou ‘gostosa’. Não negue que gostava deste tipo de ‘encostada’ que os garotos de baladas e bares te davam. Mesmo que fossem beijos ou algo mais, era o que você gostava, não negue. Eu? Já eu não sei se me arrependo de ter afrouxado a algema e seguido outro caminho. Não sei se ‘pegação’ é a minha praia. Curto minha família e bem sei que não estarão sempre ali. Mas também tenho amigos. E são amigos de verdade. Tenho poucos, mas os tenho para sempre. Você deve ter muitos que por vezes nem sabe o nome. Não, longe de mim criticar a sua vida, é que você fala com tanto entusiasmo sobre ela. Eu não acredito que ela seja tão perfeita assim, e bem sei que não é. Talvez a minha seja melhor. Não, não, a minha vida não é tão boa ao ponto que eu possa me gabar: ainda não. Oh, espere... bem sei que não gosta de palavras e isso é mais uma das coisas na qual somos diferentes. Ouvir é bom, você devia aprender. Mas voltando ao assunto, falávamos de caminhos, não é? Pois bem, cada um seguiu o seu e acabamos nos encontrando aqui. E depois você me diz que o destino não existe. Existe sim, e estamos aqui por algum motivo. Não me pergunte qual motivo é, eu não sei. Aliás, eu até devo saber, mas prefiro dispensar. Não insista, você não vai gostar. Ok, então pense comigo: se existe uma única teoria é a de que devemos continuar juntos pelo mesmo caminho, aliás, só há aquela direção. Quem sabe se lá na frente não nos deixam afrouxar as algemas novamente? ... Tem a chave aí? Pronto. Guarde bem, talvez nós precisemos dela no futuro. O seu lado está bem preso? Ok. Agora somos juízo e a falta dele, se é que eu posso te chamar assim. Somos nós um único e novo substantivo sem nome nenhum. Ah, eu me esqueci de dizer que embora eu tenha feito dele um garoto certinho, ele sentiu sua falta e eu não sou ninguém para esconder isso de você. É bom tê-la conosco mais uma vez. Faça-o se divertir, mas juízo! Quer dizer...