"Quando a velhice chegar, aceite-a, ame-a . Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem. Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres" - Séneca
Éramos jovens. Digo éramos porque não somos mais. Vivemos momentos de muitas felicidades e também compartilhamos as mais tristes verdades. Olhei para o olho dela e sorri. Ela retribuiu, e ao mesmo tempo em que sorria, fechava seus olhos jovens como se o movimento fosse obrigatório e ela não conseguisse deixar de fazer para mostrar seus dentes brancos, pelo qual sempre fui apaixonado. Uma paixão longa que resistiu por muito tempo, e resiste até hoje, ao menos de minha parte. Espero que da dela ainda também.
Junto com ela compartilhei também meus sonhos, e nas noites que um de nós acordava assustado por causa de um pesadelo e o outro em um susto também acordava, ambos sentavam-se lado a lado e acolhiam-se um ao outro com um abraço, e por vezes um carinho na cabeça que era coberta de cabelos.
Continuamos assim por muito tempo, aliás, até hoje. Anteontem mesmo tive um pesadelo e ela me acalmou como uma mãe apaixonada por sua cria. Mas desta vez eu não tinha, e ainda não tenho mais cabelo para que ela pudesse acariciar. Mas ainda assim não deixou de conseguir me confortar, não deixou de ser a mãe que cuida de mim. E é assim que eu a chamo desde o nascimento do nosso primeiro filho: mãe.
A paixão por esta mulher é cada vez maior ao passar dos anos. Toda manhã quando acordo, imagino-me olhar profundamente dentro de seus olhos, mesmo que fechados, e consigo somente por pensamentos enxergar toda a pureza que enxergo quando estão abertos. Observo também a boca, hoje enrugada, que no passado foi lisa e bela. Não que eu esteja me queixando, mas o tempo modifica nossa aparência, eu bem sei. E acho engraçado que eu consiga imaginar todo seu rosto e até o que não posso ver apenas por imaginação. E mesmo com a boca enrugada e os cabelos tingidos, eu gosto tanto dela, como ela ainda deve gostar de mim.
E por momentos, sentado em nossa cadeira de balanço, eu pensava em coisas tristes, mas que fazem parte da nossa vida e eu percebia que estavam cada vez mais perto. São coisas como uma forte doença, que Deus nos livre, ou até mesmo a morte, calma ou repentina. Nós não podemos escapar dela, seja a forma que ela vier. Ficava então imaginando quem iria antes, ou se ambos irão ao mesmo tempo. Podia garantir que sentiria muita falta se ela partisse antes de mim, e hoje pergunto a ela então, mesmo que por imaginação: o quanto você sentiria minha falta? Mas seria nula a pergunta, pois sou eu quem sente sua falta. E ela também nunca mais poderá me responder, a não ser que por imaginação. E lá ela diz que sente muita, mas que está bem. E com um sorriso e coração apertado eu lhe digo que eu também estou, mas estaria melhor com ela aqui.
