Amém, diziam antes do pano vermelho abrir. Logo depois ouvia-se o locutor dizendo: "Por favor desligue seu celular e tenham um ótimo espetáculo." Todos agora sentiam o coração bater mais forte.
Chegou o momento. Ouviu o barulho da cortina correndo e a adrenalina o fazia sentir um ventinho diferente enquanto vagarosamente aparecia a platéia no pequeno risco que mostrava o tecido enquanto se abria. Um segundo vegetando e quando acordou as cadeiras vazias dos ensaios estavam agora habitadas por alguém que estaria ali para ver o seu trabalho. Estava lá o tão respeitável público que tanto ouvia dizer nos espetáculo que sua avó levava quando pequeno. Era como se o homem de cartola alta estivesse dizendo a frase que dava início ao show: "Respeitável público". Mas embora respeitável, o público não ouviu essa frase, e ele seguiu sua marcação, encarou aquelas estranhas pessoas desconhecidas e disse sua primeira fala. Algum tempo depois conseguiu enxergar naquela escuridão o primeiro sorriso e mais em breve a primeira lágrima. Estava em casa, só faltava tirar os sapatos e colocar os pés em cima da mesinha de centro que fazia parte do cenário. Mas não podia, defendeu seu personagem até o fim do espetáculo. Agradeceu os merecidos aplausos e novamente ouviu o barulho do pano, desta vez fechando e mostrando novamente o risco que escondia a platéia satisfeita. Agora, já atrás do pano dizia para um colega ou outro: "Pareciam mendigos esfomeados. E aqui, eu era a carne."
