30 setembro, 2019

Distante e Honesto

Quer ouvir Deitada nessa cama junto?




Eu tenho o melhor namorado do mundo. Hoje a gente conversou sobre terminar. É que fica difícil conciliar alguns planos pessoais com o de casal quando se está longe. Eu estava preparado pra isso, entendia completamente o lado dele porque simplesmente me sentia igual. Dói muito crescer sozinho quando se tem alguém. Cheguei para ele com o coração aberto. Adiamos a conversa até nos convencermos que estávamos ali para isso. “Me diz, vamos terminar?”. Olhos fechados e um beijo. “Eu não sei. Acho que sim”. Eu estava ali para isso, tinha vestido todas as minhas armaduras. O coração inchou como nunca havia inchado. Caiu uma lágrima. Contra toda minha razão “Eu não quero isso. Eu sei que é o melhor, mas esse melhor não faz sentido”. Ficamos algumas horas ali. 

Como viver o fim do mundo, você precisa aproveitar seus últimos instantes intensamente. O meu intenso foi fazer nada. O dele também.

“Eu só queria poder viver os domingos como se fossem domingos com você”. Nossos domingos são agitados, quando bons ainda tem sempre uma viagem embutida neles. Respiramos fundo. Eu não precisei dizer mais nada, todo nosso sentimento era recíproco. “De tantas coisas ruins que poderiam ser, a distância parece ser nosso único defeito. E nem é nosso.” “A distância é o pior defeito que poderia ser.” Pois é. Mas havia muito ali. Muito de nós se reconhecendo e mostrando que não se fez por um fim sem graça. “Eu não quero isso”, eu repeti. Ele secou minhas lágrimas, deu um quarto de sorriso que quase nem apareceu, e repetiu minhas palavras. A gente sabia que não queríamos. “Eu preciso mais de mim”. “Eu te ajudo”. “Eu não acho fácil”. “Eu facilito”. “Queria ser um pouco como você”. “E não é mais fácil tentar estando mais perto?”. Por fim, está bem. De todos os nossos defeitos a distância ainda pode nos aproximar. No tempo dela. Desistimos. Não de nós, mas dessa bobeira toda de não insistir. Permanecemos. Meu sorriso denuncia como estou aliviado e feliz com isso. “Te amo”. E aquele quarto de sorriso. “Muito”. “Eu também”.