12 maio, 2017

Energize-me

“As pessoas mentem, mas a energia delas não”.



Coloquei como teste desabafar sobre o período em que cruzei com pessoas desavisadas sobre mim. Todos foram cobaias do ego de quem permitiu manter-se introspectivo. As desculpas esfarrapadas que trarei nessa conversa também não são sinceras, me perdoem desde já. Acontece que a gente muda, e nem sempre nos contentamos com a mudança e somos forçados a aceitar nós mesmos. Mesmo que agora possa não parecer, acredito nisso.

A noção que tinha sobre a minha sorte era ampla, o que me fazia autoconfiante, mas me cegava. Em uma breve retrospectiva, encontrei a felicidade plena e, com ela, confiança. Eu podia transmitir em espírito toda a alegria que habitava em mim. Sempre fui um bom amigo, paciente e ouvinte, mas nunca havia refletido sobre a complexidade das relações humanas. Aos poucos ouvir incomodou, aconselhar foi repetitivo demais e sorrir ficou forçado. Então virei gelo. Não porque quis, mas porque me tornei.  Mesmo que agora possa não parecer, não foi algo ruim.

Ao me dar conta, percebi que nada era favorável ao meu amadurecimento.  Eu estava exausto da minha essência e passei a não transmitir o que eu tinha de bom. Soava falso. 

E a cada dia fui me tornando ainda mais introspectivo até que houve uma auto avaliação de quem eu estava me tornando, e encontrei amadurecimento. Mesmo que agora possa não parecer, amadureci.

Amadurecer não significa tornar-se maduro, mas estar no caminho. É um processo mais presente que futuro, entende? Percebi que conseguia me colocar melhor no lugar do outro e tomar as mesmas dores, que a vida é injusta com alguns e que não precisamos sempre estar de bom humor ou pensando que todos precisam das nossas orações. Com um pouco de amargura fui deixando de ser apoio para os outros e tentando me tornar muleta para eu mesmo. Mesmo que agora possa não parecer, me tornei.

Então refleti sobre as pessoas que andavam comigo. As nossas relações já não eram mais de desabafo, mas de utilidade. Procuravam-me enquanto eu estava, e não quando convinha. Ainda mais introspectivo percebi que a minha felicidade não era combustível para ninguém, mas a dos outros era para mim.  Fizeram-me falta os abraços de agradecimento, os sorrisos de alegria, as bobagens faladas no dia-a-dia. Mesmo que agora possa não parecer, me senti sozinho.

Nessas circunstâncias fiz um esforço para voltar a ser sociável como antes, retomei ao grupo de amigos e voltei a ter empatia pelos problemas dos outros. Houve espaço para ouvirem minhas inquietudes. Aí percebi o primeiro esboço de sorriso. Mesmo que agora possa não parecer, meus dentes saltaram para fora.

Percebi então algo sobre as relações humanas: a energia do ser vivo mantém-se estável enquanto há outra por perto, e a instabilidade se equilibra aí. Não precisamos aceitar nós mesmos já que somos flexíveis o tempo todo. A empatia é o principal ingrediente, mesmo que possa não parecer.